355 Anos de Feira dos Santos



Algumas das minhas memórias mais felizes ligam-se à Feira dos Santos, ou seja, à minha terra e infância. Aos carrinhos de choque, ao prazer de estrear umas botas caneleiras para ir “feirar”, à Batalhoz engalanada com luzes, ao cheiro das castanhas assadas, ao barulho de fundo que se ouvia até tarde no centro da terra.

Ainda hoje o sinal sonoro do fim das corridas dos carrosséis me faz sorrir. Ainda hoje este ritual mágico continua, agora com outras crianças, com os filhos dos que comigo corriam para a fantasia, para a Feira.

Mas antes deste entusiasmo emocionante das crianças que ainda vêem a Feira chegar à sua terra, também a geração do meu pai feirou na sua infância, na altura, mesmo no centro do Cartaxo. É que a Feira já teve outras localizações.

A primeira Feira terá sido na Quinta do Senhor Jesus. Nasceu em 1654, em Agosto, e fora da localidade. Ao que parece, o povo achava-a longe e, mais tarde, quando o Bosque que existia no centro da vila desapareceu e se começou a construir a Praça de Touros, o Tribunal, a Cadeia, a Câmara e outros Serviços Públicos, a Feira passou para junto das pessoas que a tornaram ainda maior, ganhando a terra mais dinâmica e animação.

Na segunda metade do século passado, a Feira passou, primeiro para as Avenidas Novas e depois para o local onde hoje se encontra. Perante a impossibilidade de a manter praticamente em cima duma Estrada Nacional, a sua localização ficou perto do Centro, sem grandes desníveis de terreno para lá se chegar. A verdade é que não se sai da zona urbana para se “feirar”. Sente-se que a Feira dos Santos faz parte da terra.

A Feira, como se vê, não esteve sempre no mesmo sítio, mas há mais de 100 anos que está no Cartaxo. Tirá-la e mandá-la para um local sem memória e de mais difícil acesso, apenas para pagar o desgoverno da Câmara, parece-me uma ofensa à nossa memória colectiva.

Vender o Campo da Feira para fazer prédios, vender o que foi doado à terra por um cartaxeiro para usufruto de todos nós, parece-me pouco digno.

É hora de perguntar que estudos estão na base desta decisão, que dívidas são estas que levam a tudo vender aos empreiteiros. Afinal o que ganha a Comunidade com a ida da Feira “lá para baixo”. É hora de perguntar à Autarquia que projecto tem, se é que o tem, e caso o tenha, se ele concilia a nossa memória com o nosso futuro.

Já agora, se não for para pagar dívidas, por que não estudaram a viabilidade de um Parque Verde e requalificado onde se continue a fazer a Feira dos Santos e o Mercado Mensal? É que nas contas do deve e haver que nos apresentaram, não falaram da dignidade da Feira, não falaram da Comunidade, não falaram dos Cidadãos.

Colocar o Cartaxo a leilão em nome de quem? Não em meu nome! Mudar a localização de uma Feira com 355 anos, sem dar “cavaco” aos cidadãos, não é Democrático, não é Digno, não é forma de governar no século XXI.

Pedro Mendonça
Ex-Director do Centro Cultural do Cartaxo
Candidato à Assembleia Municipal pelo Bloco de Esquerda